Dados mal armazenados são como sementes perdidas, prometeram frutos, mas nunca brotarão.

1. Definição
O armazenamento dos dados é o processo que garante que todas as informações coletadas durante a pesquisa sejam guardadas de forma organizada, segura, íntegra e identificável, preparando o terreno para a próxima etapa: a tabulação dos dados. Trata-se de uma atividade estratégica que ocorre entre a coleta e a análise, funcionando como um elo essencial na cadeia de confiabilidade dos resultados.
A função principal do armazenamento é proteger os dados contra perdas, alterações indevidas ou acessos não autorizados, assegurando que eles permaneçam disponíveis e íntegros até o final da pesquisa e durante o período necessário de guarda após sua conclusão, conforme orientações éticas e legais. Independentemente de a coleta ter sido feita por formulários impressos, eletrônicos ou híbridos, os dados devem ser armazenados de maneira que sua origem e autenticidade possam ser comprovadas.
A forma como os dados serão armazenados já deve ter sido prevista e aprovada no projeto de pesquisa, descrita no item “Monitoramento da pesquisa” e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Isso inclui definir onde os dados serão guardados (local físico ou digital), por quanto tempo permanecerão acessíveis, quem terá permissão de acesso e quais medidas de proteção serão adotadas, como criptografia, senhas ou cópias de segurança.
Para dados físicos (papel), o armazenamento deve ser feito em local seco, limpo, seguro e de acesso restrito. No caso de dados digitais, recomenda-se o uso de plataformas em nuvem seguras, com autenticação em dois fatores, além de backups automáticos. Sempre que possível, é ideal que os dados sejam armazenados em formatos abertos (como .csv) para garantir sua reutilização futura sem dependência de softwares específicos.
Por fim, é essencial que os dados armazenados possam ser rastreados até sua origem, o que significa que todo conjunto de dados deve estar vinculado de forma inequívoca ao participante ou à unidade de análise correspondente, com uso de identificadores únicos. Essa rastreabilidade garante a transparência e a auditoria dos dados, caso sejam solicitadas revisões, correções ou reanálises após a publicação dos resultados.
2. Importancia
O armazenamento adequado dos dados é uma etapa crítica na execução da pesquisa, pois assegura a continuidade, fidelidade e segurança das informações coletadas, contribuindo diretamente para a qualidade final dos resultados. Dados mal armazenados podem comprometer toda a investigação, tornando inviável sua tabulação, análise e divulgação. Dois aspectos principais justificam sua importância:
a) Fidelidade do dado
A integridade dos dados armazenados é essencial para que os resultados obtidos ao final da pesquisa reflitam exatamente o que foi coletado. O processo de armazenamento deve assegurar que não haja discrepâncias entre o que foi registrado nos formulários de coleta de dados e o que será inserido na planilha de dados individuais.
Uma estratégia eficaz para garantir essa fidelidade é a digitação redundante dos dados, isto é, a entrada dos mesmos dados por duas pessoas diferentes (ou por uma mesma pessoa em momentos distintos), permitindo a identificação de inconsistências. A conferência automática ou manual dos dados discordantes é uma etapa indispensável. Quando diferenças são identificadas, é necessário consultar o formulário original para realizar a correção, garantindo que a base de dados reflita com exatidão o que foi coletado.
b) Não-perda dos dados
A perda de dados é uma das falhas mais comuns e graves em pesquisas. Ela pode ocorrer por problemas técnicos (como falhas no equipamento, ataques cibernéticos ou queda de energia) ou por erro humano (como sobrescrita de arquivos ou exclusão acidental).
Para prevenir esse risco, é imprescindível adotar uma rotina sistemática de cópias de segurança (backups). Recomenda-se que, ao final de cada sessão de trabalho, seja criada uma cópia do arquivo atualizado. Além disso, semanalmente, devem ser mantidas pelo menos duas cópias:
- uma local (armazenada no próprio computador ou em disco externo seguro);
- e outra remota (em um serviço de nuvem confiável, como Google Drive, Dropbox, OneDrive ou outro compatível com as normas da instituição).
Essas cópias devem ser organizadas cronologicamente e identificadas com data e horário, para facilitar a recuperação em caso de falhas ou corrupção do arquivo original.
Armazenar bem os dados não é apenas uma questão técnica: é um compromisso ético com os participantes da pesquisa, com a veracidade científica e com a sociedade. Pesquisas que falham na proteção dos dados coletados comprometem sua credibilidade e podem perder anos de trabalho em segundos. Por isso, o armazenamento deve ser visto como um pilar da execução científica.
3. Quem deve fazer?
O responsável direto pelo armazenamento dos dados é o próprio pesquisador principal. Isso se justifica pelo fato de que ninguém compreende melhor a origem, o significado e a estrutura dos dados do que aquele que os idealizou e os coletou. O armazenamento não é uma tarefa técnica isolada; trata-se de uma etapa estratégica que requer julgamento, responsabilidade e conhecimento do contexto da pesquisa.
Ao assumir pessoalmente essa tarefa, o pesquisador garante que as informações sejam guardadas com o devido cuidado, seguindo os padrões de fidelidade e segurança estabelecidos no projeto de pesquisa e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Isso inclui a escolha adequada do formato, do local e do método de armazenamento, além da definição de regras claras de acesso aos dados.
Em pesquisas mais complexas, que envolvem grandes volumes de dados ou equipes numerosas, o pesquisador pode delegar partes operacionais do processo (como a digitação ou o backup) a auxiliares treinados. No entanto, essa delegação não transfere a responsabilidade: o pesquisador continua sendo o responsável legal, científico e ético pelo correto armazenamento das informações.
Por isso, é essencial que o pesquisador domine pelo menos os princípios básicos de organização de dados, segurança da informação e versionamento de arquivos. Ele também deve supervisionar de forma ativa a equipe envolvida, garantindo que todos compreendam a importância do armazenamento adequado e sigam rotinas previamente definidas.
Em resumo, o pesquisador não deve encarar o armazenamento de dados como uma tarefa burocrática, mas como uma ação de preservação da integridade científica e ética da pesquisa, da qual ele é o principal guardião.
4. Quando fazer?
O armazenamento dos dados deve ser realizado imediatamente após o preenchimento de cada formulário de coleta de dados, sem qualquer tipo de adiamento. Essa orientação se baseia em um princípio fundamental da boa prática científica: quanto menor o intervalo entre a coleta e o armazenamento, menor o risco de perda, corrupção ou distorção das informações.
Esse procedimento imediato assegura que os dados ainda estejam frescos na memória da equipe de coleta, facilitando a identificação de erros, rasuras ou inconsistências que possam ser corrigidas antes que o tempo comprometa a verificação. Adiar o armazenamento pode levar à acumulação de formulários físicos não protegidos, ao extravio de arquivos digitais temporários, ou mesmo à regravação indevida de dados em planilhas antigas.
No caso de formulários físicos, o ideal é que sejam digitalizados (escaneados ou fotografados com qualidade adequada) e salvos em um diretório nomeado por data e local da coleta, antes de qualquer manipulação. Se a coleta for eletrônica (como em formulários Google ou plataformas similares), os dados devem ser exportados, nomeados adequadamente e imediatamente salvos em pelo menos dois locais: um armazenamento local (computador ou HD externo) e outro remoto (nuvem segura).
A rotina de armazenamento deve ser incorporada como parte final da coleta de dados, e não como uma atividade posterior. Cada dia de campo ou cada turno de coleta deve terminar com a confirmação de que todos os dados foram armazenados com segurança, com registros de data, versão e responsáveis. Essa prática aumenta a rastreabilidade da pesquisa e contribui para a transparência e a reprodutibilidade dos resultados.
5. Onde fazer?
O armazenamento dos dados deve ser feito em ambientes que reúnam duas condições mínimas e indispensáveis:
- Acesso aos dados coletados, sejam eles físicos (formulários impressos) ou digitais (respostas eletrônicas);
- Disponibilidade de um computador com acesso à internet, que permita não apenas salvar os dados de forma organizada, mas também realizar cópias de segurança em local remoto.
Na prática, isso significa que o armazenamento pode ser feito em locais variados, desde que ofereçam segurança, privacidade e infraestrutura mínima. Alguns exemplos incluem:
- O escritório do pesquisador ou da instituição;
- Um laboratório de informática com acesso restrito;
- Um ambiente doméstico controlado, quando a pesquisa for de menor complexidade;
- Espaços virtuais organizados, como contas protegidas em serviços de nuvem (Google Drive, Dropbox, OneDrive, etc.).
O mais importante não é o local físico, mas sim a adoção de práticas seguras e padronizadas de armazenamento, garantindo que:
- Os dados não fiquem expostos ao acesso de pessoas não autorizadas;
- O ambiente digital escolhido (como pastas no computador ou na nuvem) seja organizado por pastas temáticas, datas e versões, facilitando o rastreamento de atualizações;
- As rotinas de backup sejam seguidas com rigor, independentemente do ambiente utilizado.
Além disso, é recomendável que o local escolhido para o armazenamento seja o mesmo utilizado para as etapas seguintes — como a tabulação e análise dos dados —, de modo a evitar perdas por transferências desnecessárias ou desorganizadas de arquivos.
Assim, o melhor lugar para armazenar os dados é aquele que garante segurança, acessibilidade controlada, rastreabilidade das versões e compatibilidade com os próximos passos da pesquisa.
6. Como fazer?
O armazenamento dos dados deve seguir uma rotina clara, segura e padronizada, que garanta a integridade e a rastreabilidade das informações ao longo de toda a pesquisa. Para isso, siga os passos abaixo:
6.1. Crie uma planilha de dados individuais. A planilha de dados individuais é o principal instrumento de armazenamento estruturado das informações. Nela, cada linha representa um formulário de coleta de dados (ou um participante, experimento, unidade amostral) e cada coluna corresponde a uma variável coletada. Essa planilha já deve ter sido criada durante o planejamento da pesquisa, especificamente no item Teste de Instrumentos e Procedimentos, e deve constar como anexo no projeto de pesquisa submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa.
A estrutura da planilha deve permitir a tabulação automática dos dados, evitando repetições manuais e facilitando a análise estatística futura. Prefira o formato eletrônico. Embora seja possível construir uma planilha manual (em papel), o uso de planilhas eletrônicas, como o Google Sheets, Excel ou sistemas dedicados (como REDCap), é altamente recomendado. Esses formatos oferecem:
- Maior segurança (com backups automáticos),
- Facilidade de compartilhamento e colaboração,
- Validação de dados (evitando digitação incorreta),
- E integração direta com ferramentas de análise estatística.
A escolha por um formato eletrônico moderno reduz drasticamente erros operacionais e melhora a eficiência do armazenamento.
6.2. Faça digitação redundante dos dados. A digitação redundante consiste na entrada dos mesmos dados duas vezes, por operadores diferentes ou pela mesma pessoa em momentos distintos. Esse processo é fundamental para identificar erros humanos no momento da transcrição do formulário para a planilha. Muitos softwares permitem a comparação automática entre duas versões e a identificação de discrepâncias.
6.3. Faça conferência dos dados discordantes. Após a digitação redundante, as diferenças entre os dois conjuntos de dados devem ser sistematicamente conferidas. A fonte de verdade sempre será o formulário original de coleta. Nenhuma correção deve ser feita por suposição. Esse procedimento assegura que o banco de dados final reflita com exatidão o que foi realmente coletado.
6.4. Faça cópias de segurança. A segurança dos dados é uma responsabilidade ética e científica do pesquisador. Por isso, é necessário adotar uma rotina de backups regulares, com pelo menos duas cópias de segurança:
- Uma local (em HD externo ou na própria máquina, com criptografia se possível);
- Uma remota (em serviços como Google Drive, Dropbox, OneDrive, iCloud, etc.).
As cópias devem ser realizadas ao final de cada sessão de trabalho e, no mínimo, uma vez por semana. Além disso, cada cópia deve estar claramente identificada com data, versão e responsável, evitando confusão com versões anteriores.
6.5. Utilize formulários vinculados à planilha. Sempre que possível, utilize ferramentas como Google Forms, que permitem que os dados coletados sejam automaticamente enviados para uma planilha vinculada. Essa abordagem reduz a necessidade de digitação manual e elimina etapas intermediárias que poderiam introduzir erros. Ainda assim, é importante revisar regularmente os dados recebidos e manter cópias da planilha principal.
Armazenar dados não é apenas “guardar informações”; é preservar a memória da pesquisa com rigor científico e responsabilidade ética. Um bom armazenamento facilita a tabulação, protege os dados e confere credibilidade a todo o processo investigativo.
7. Considerações finais
O armazenamento eficiente dos dados marca o encerramento da etapa de coleta e inaugura a fase de organização para análise. Quando bem executado, ele garante que o conteúdo do formulário de coleta de dados tenha sido integralmente transferido, conferido e preservado em um sistema estruturado, permitindo que os formulários originais sejam arquivados de forma definitiva, sem necessidade de consulta contínua.
Isso significa que, após a digitação redundante, a conferência das divergências e a realização dos backups, o formulário de coleta de dados cumpre sua função e pode ser guardado apenas como documentação de controle ou comprovação ética, caso necessário. Ele deixa de ser o centro da atenção e dá lugar à planilha de dados individuais, que passa a ser o principal repositório das informações científicas da pesquisa.
Mais do que uma etapa técnica, o armazenamento é uma garantia de continuidade e confiabilidade do estudo, evitando perdas acidentais e retrabalhos que consomem tempo, energia e credibilidade. Também representa um compromisso ético com os participantes da pesquisa, cujas informações devem ser protegidas e tratadas com responsabilidade até o fim do estudo — e mesmo após sua conclusão.
A eficiência do armazenamento tem impacto direto na próxima etapa, a tabulação dos dados, pois quanto mais organizado e completo estiver o banco de dados, mais fluido será o processo de análise e interpretação. Portanto, armazenar bem não é apenas guardar — é preparar o terreno para transformar dados brutos em conhecimento científico.
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