Determinar a viabilidade de uma pesquisa é uma habilidade essencial para qualquer pesquisador; é onde teoria e prática se encontram!

8.1. Definição

Os testes de instrumentos e de procedimentos representam o quarto passo no processo de planejamento de uma pesquisa. Essa etapa ocorre após a revisão da literatura e antes da redação do projeto de pesquisa. A função principal desses testes é assegurar que os instrumentos e procedimentos necessários para a execução da pesquisa estão disponíveis e funcionando adequadamente, além de verificar se o pesquisador possui as habilidades e os recursos necessários para conduzi-los de forma eficaz.

Testar os instrumentos significa verificar, em primeiro lugar, se todos os equipamentos essenciais para o estudo estarão acessíveis no momento e local adequados. Além disso, é crucial garantir que o pesquisador (ou sua equipe) saiba operar esses instrumentos corretamente. Por exemplo, no caso de um estudo que exige o uso de ultrassonografia, é preciso verificar a disponibilidade do aparelho, bem como a capacidade do pesquisador de utilizá-lo de maneira adequada. Caso essa competência não esteja presente, será necessário contratar um profissional qualificado para essa função.

Por sua vez, testar os procedimentos envolve garantir que as rotinas, métodos e técnicas planejadas podem ser implementadas com os recursos disponíveis. Em uma pesquisa experimental com animais, por exemplo, é imprescindível que o pesquisador tenha a habilidade necessária para manipular os animais, administrar anestesia e realizar todos os outros procedimentos de forma segura e eficiente. A pesquisa só poderá começar quando o pesquisador estiver completamente habilitado para realizar todos os procedimentos e manejar os instrumentos. Caso contrário, será necessário recrutar pessoas capacitadas para essas funções.

8.2. Importância

Após a conclusão da revisão da literatura, o pesquisador já terá uma noção clara da viabilidade teórica da pesquisa — ou seja, se a ideia é exequível e relevante com base no conhecimento existente. Entretanto, a pesquisa também precisa ser exequível do ponto de vista prático, e é nesse momento que os testes de instrumentos e procedimentos se tornam indispensáveis.

Esses testes têm a função de garantir que a ideia não apenas faça sentido teoricamente, mas também possa ser executada na prática. Eles ajudam a identificar potenciais problemas logísticos ou técnicos antes de a pesquisa começar, permitindo que o pesquisador corrija falhas, ajuste os planos ou adquira novos recursos conforme necessário. Realizar esses testes evita surpresas durante a execução do estudo e aumenta as chances de sucesso na coleta de dados e na obtenção de resultados confiáveis.

8.3. Quem deve fazer?

O pesquisador principal é a pessoa mais qualificada para realizar os testes de instrumentos e procedimentos. Isso porque ele é o idealizador da pesquisa e, portanto, entende melhor do que qualquer outra pessoa o que precisa ser feito, quais recursos são necessários e como a pesquisa deve ser conduzida. O pesquisador principal tem a visão geral do projeto e é capaz de identificar os detalhes críticos que podem impactar o sucesso da pesquisa. Essa função exige uma análise cuidadosa de cada parte do plano de intenção, para assegurar que todos os elementos práticos — desde a utilização dos instrumentos até a execução dos procedimentos — estejam bem organizados e funcionais.

Se o pesquisador identificar áreas onde não possui expertise suficiente, ele pode decidir recrutar especialistas ou colaboradores para auxiliar nas etapas mais técnicas da pesquisa. Entretanto, a responsabilidade de verificar a viabilidade geral do estudo, coordenar as equipes e tomar decisões estratégicas continua sendo do pesquisador principal.

8.4. Quando fazer?

Os testes de instrumentos e procedimentos devem ser realizados imediatamente após a conclusão da revisão da literatura, mas antes de iniciar a redação do projeto de pesquisa. Esse momento é crucial, pois garante que todas as verificações práticas sejam feitas antes de o projeto avançar para a próxima fase. Não faz sentido testar a viabilidade prática do estudo sem antes ter certeza de que a pesquisa é viável do ponto de vista teórico, pois a revisão da literatura fornece a base teórica que justifica o desenvolvimento da pesquisa.

Realizar os testes nesse momento permite ao pesquisador ajustar qualquer aspecto do estudo que possa apresentar problemas, seja na disponibilidade de instrumentos, na execução dos procedimentos, ou nas habilidades necessárias. Dessa forma, ao avançar para a redação do projeto, o pesquisador estará seguro de que tanto os recursos teóricos quanto os práticos estão em perfeita harmonia, prontos para a execução do estudo.

8.5. Onde fazer?

Os testes de instrumentos e procedimentos devem ser realizados em dois ambientes principais. O primeiro é o escritório ou o espaço onde o pesquisador conduz sua reflexão crítica sobre o plano de pesquisa. Nesse ambiente, o pesquisador revisa os detalhes do plano de intenção e avalia os recursos e instrumentos que serão necessários para a execução do estudo.

O segundo ambiente é o laboratório ou o campo, que representa o local físico onde a pesquisa será conduzida. É nesse espaço que o pesquisador verifica, na prática, a disponibilidade e funcionalidade dos instrumentos e a exequibilidade dos procedimentos. Se a pesquisa for realizada em campo, o pesquisador deve garantir que todas as condições necessárias para a coleta de dados estejam disponíveis e que os equipamentos funcionem adequadamente. Se for em laboratório, o pesquisador precisa testar os instrumentos, as instalações e verificar se todos os recursos humanos e materiais estão disponíveis no momento certo. A combinação desses dois ambientes — a reflexão teórica no escritório e os testes práticos no local de execução — assegura uma preparação completa para a pesquisa.

8.6. Como fazer?

Para realizar os testes de instrumentos e procedimentos de maneira eficiente, o pesquisador deve seguir um processo organizado. Aqui estão as etapas sugeridas:

1. Use o plano de intenção como guia: Revise o plano de intenção para identificar, em cada item, os instrumentos e procedimentos necessários.
2. Anote os instrumentos e procedimentos em cada item: Faça anotações (pode utilizar texto oculto) no final de cada item, descrevendo os instrumentos e procedimentos que serão utilizados.
3. Classifique as tarefas: Marque com um asterisco os itens que você, como pesquisador, pode realizar por conta própria. Marque com dois asteriscos os itens em que será necessária a assistência de terceiros ou a contratação de especialistas.
4. Priorize os itens: Numere os itens de acordo com a prioridade, destacando aqueles que precisam ser resolvidos com maior urgência.
5. Crie um plano de ação: Para cada item, elabore um plano para resolver qualquer problema ou limitação identificada. Execute o plano e reavalie cada item conforme necessário, até que todos os instrumentos e procedimentos estejam em ordem.

Além de seguir essas etapas, o pesquisador também precisa preparar três documentos fundamentais para garantir a viabilidade da pesquisa:

• Formulário de coleta de dados: Este documento padroniza a coleta de informações durante o estudo.
• Tabela de dados individuais: Usada para organizar e acompanhar os dados de cada participante ou experimento.
• Termo de consentimento livre e esclarecido: Documento essencial para pesquisas envolvendo seres humanos, que garante a conformidade ética da pesquisa.

Documentos necessários

Após concluir os testes de instrumentos e procedimentos, o pesquisador deve garantir que os seguintes itens estejam prontos e disponíveis:

1. A ideia brilhante (Arquivo de Apresentação Google);
2. O plano de intenção (Arquivo de Documentos Google);
3. O formulário de conflito de interesse (www.icmje.org/conflicts-of-interest/);
4. A estratégia de busca (Arquivo de Documentos Google);
5. Conta no MyNCBI com alertas ativados (www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/myncbi);
6. Pelo menos três artigos relacionados a cada item do plano de intenção (ao menos dois artigos que apoiem a hipótese e um que apresente visão contrária);
7. A tabela de dados individuais (Arquivo de Planilha Google);
8. O formulário de coleta de dados (Arquivo de Formulário Google);
9. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Arquivo de Documentos Google);
10. Leitura de pelo menos metade do livro de Epidemiologia Clínica (Fletcher, 2014);
11. Leitura de pelo menos metade do livro “Delineando a Pesquisa Clínica” (Hulley, 2015);
12. O tema da pesquisa deve estar dentro da linha de pesquisa do orientador;
13. A estratégia para viabilizar a pesquisa (Arquivo PDF).

8.7. Considerações finais

Somente avance para a próxima etapa do planejamento da pesquisa — a redação do projeto de pesquisa — quando tiver total convicção de que a pesquisa é viável, tanto teoricamente quanto na prática. Para isso, é essencial que quatro documentos estejam em mãos: o formulário de coleta de dados, a tabela de dados individuais, o termo de consentimento livre e esclarecido, e a estratégia de viabilização.

A revisão da literatura assegura que a pesquisa é viável do ponto de vista teórico, ao oferecer suporte teórico e empírico para a pergunta de pesquisa. Já os testes de instrumentos e procedimentos garantem a viabilidade prática, permitindo que o pesquisador confirme que os recursos e as habilidades necessárias estão disponíveis e operacionais. Ambos os aspectos — teórico e prático — são cruciais para o sucesso da pesquisa, e a falta de atenção a qualquer um deles pode comprometer os resultados.

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