10. Encaminhar o Projeto Para o Comitê de Ética em Pesquisa

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A ciência só é legítima quando respeita a dignidade humana — por isso, nenhuma pesquisa com pessoas deve começar sem antes passar pelo crivo ético.

As etapas e fases do processo de fazer uma pesquisa

1. Definição

Este é o período compreendido entre a conclusão da redação do projeto de pesquisa e a sua submissão formal ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), culminando na obtenção da aprovação ética. Nenhuma coleta de dados pode ser iniciada antes dessa aprovação. Trata-se de um requisito ético e legal essencial, regulamentado por normas como a Resolução CNS 466/2012 e, quando aplicável, complementado pelas Boas Práticas Clínicas internacionais.

2. Importância

Encaminhar o projeto de pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) é um passo indispensável para garantir que o estudo seja conduzido de forma ética, responsável e cientificamente válida. A importância dessa etapa pode ser compreendida em três dimensões complementares:

Proteger o participante da pesquisa. A principal função do CEP é assegurar que os participantes da pesquisa estejam protegidos contra qualquer forma de dano, risco ou abuso. Isso vale tanto para pesquisas clínicas quanto para estudos observacionais ou com dados secundários. Quando uma pesquisa é mal planejada ou tem falhas metodológicas graves, o participante pode ser exposto a procedimentos inúteis ou até prejudiciais. Portanto, proteger o sujeito da pesquisa significa também protegê-lo de pesquisas de má qualidade e daquelas em que os riscos superam os benefícios potenciais. O CEP atua, nesse sentido, como um guardião dos direitos, da dignidade e da segurança dos participantes.

Co-responsabilidade institucional. Ao aprovar um projeto, o comitê de ética passa a compartilhar a responsabilidade pela execução daquela pesquisa. Isso não diminui a responsabilidade do pesquisador, mas fortalece a legitimidade da investigação, demonstrando que o estudo foi avaliado e autorizado por um órgão independente. Essa co-responsabilidade é essencial para garantir que, em caso de dúvidas, denúncias ou problemas, haja instâncias institucionalmente reconhecidas para mediar, investigar e, se necessário, intervir. Assim, a aprovação ética é também uma forma de autorização oficial para que a pesquisa seja iniciada.

Avaliação ética-científica independente. Um dos grandes méritos do sistema de avaliação ética é que ele exige uma análise feita por indivíduos que não estão diretamente envolvidos na pesquisa, ou seja, por avaliadores independentes. Esses avaliadores examinam não apenas os aspectos éticos formais (como a presença do TCLE ou a descrição de riscos e benefícios), mas também os aspectos metodológicos do projeto. Isso porque não se pode separar completamente ética de método: uma pesquisa mal planejada, com metodologia inadequada, também é eticamente inaceitável, pois desperdiça recursos e tempo dos participantes sem gerar conhecimento confiável. Assim, todo erro metodológico é também um erro ético — embora nem todo erro ético tenha origem exclusivamente na metodologia. Essa interdependência mostra que a revisão ética é, ao mesmo tempo, uma revisão científica.

Em resumo, a importância de submeter o projeto ao comitê está em proteger os sujeitos da pesquisa, garantir respaldo institucional para sua realização e permitir que especialistas independentes avaliem criticamente todos os seus aspectos, tanto éticos quanto científicos.

3. Quem deve fazer?

O pesquisador é o indivíduo que deve encaminhar o projeto de pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), pois é ele quem possui o domínio sobre todos os aspectos da investigação — desde a formulação da pergunta de pesquisa até os detalhes metodológicos e logísticos do estudo. Essa responsabilidade não pode ser delegada integralmente, mesmo que o pesquisador conte com o apoio de orientadores, membros da equipe ou setores administrativos da instituição.

Cabe ao pesquisador garantir que todos os documentos exigidos estejam completos, coerentes e devidamente organizados para submissão, incluindo o projeto de pesquisa, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os instrumentos de coleta de dados, o cronograma, a análise de riscos e benefícios, e o formulário de conflito de interesses. Ele também é responsável por preencher corretamente os campos da Plataforma Brasil e acompanhar o andamento da avaliação, respondendo às pendências, caso sejam solicitadas pelo comitê.

Ainda que o pesquisador possa receber orientações e suporte técnico, a decisão de submeter, revisar e validar as informações é exclusivamente dele. Esse protagonismo reforça sua responsabilidade ética, científica e legal sobre o estudo. Portanto, o encaminhamento ao CEP é mais do que um procedimento burocrático: é um ato de compromisso público do pesquisador com a integridade e a transparência da sua pesquisa.

4. Quando fazer?

O projeto de pesquisa só deve ser encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) após a finalização da sua redação completa. Esse momento marca o encerramento da etapa de planejamento e a consolidação de todos os elementos teóricos, metodológicos e logísticos necessários para a condução do estudo. Submeter o projeto antes de sua finalização pode resultar em pendências evitáveis, retrabalho e atrasos no cronograma.

Finalizar o projeto significa que o pesquisador já desenvolveu e refinou a ideia brilhante, elaborou o plano de intenção, revisou a literatura, testou os instrumentos e procedimentos e redigiu o projeto propriamente dito com todos os itens exigidos — como justificativa, objetivos, delineamento, amostragem, variáveis, métodos estatísticos, riscos e benefícios, cronograma e plano de trabalho.

Esse cuidado garante que o comitê receba uma versão madura e coerente da pesquisa, capaz de ser avaliada com clareza e profundidade. Encaminhar antes da hora pode ser visto como uma demonstração de imaturidade científica, além de comprometer a avaliação ética, que depende diretamente da qualidade metodológica do estudo. Por isso, o momento certo para submeter é apenas após a revisão final do projeto e com todos os documentos auxiliares prontos e revisados.

Assim, ao concluir o projeto de forma rigorosa e responsável, o pesquisador está apto a iniciar o processo de submissão ética com segurança, transparência e respeito às normas da pesquisa científica.

5. Onde fazer?

A submissão do projeto de pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) pode ser feita em qualquer lugar que disponha de um computador com acesso à internet, já que todo o processo é realizado por meio de um formulário eletrônico na Plataforma Brasil (https://plataformabrasil.saude.gov.br). Essa plataforma é o sistema oficial utilizado em todo o país para registrar, acompanhar e avaliar os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos.

Apesar da simplicidade técnica para o envio — que pode ser feito de casa, do laboratório, da biblioteca ou até mesmo de um espaço de coworking — é fundamental que o ambiente escolhido permita concentração, acesso aos documentos e segurança digital. Como o processo envolve anexar múltiplos arquivos (projeto de pesquisa, TCLE, formulários de coleta, cronograma, entre outros), o pesquisador deve estar em um local onde consiga revisar e organizar cuidadosamente todas essas informações.

Além disso, como o sistema exige login com CPF e validação de identidade, recomenda-se evitar redes públicas ou computadores compartilhados, a fim de garantir a confidencialidade dos dados e a integridade do processo de submissão.

Por fim, é importante lembrar que, embora a submissão seja feita online, o projeto será avaliado por um CEP vinculado a uma instituição específica (geralmente a do pesquisador ou do orientador). Por isso, é útil ter fácil acesso às informações institucionais e aos contatos administrativos, caso seja necessário esclarecer dúvidas ou complementar informações solicitadas pelo comitê.

6. Como fazer?

Para encaminhar corretamente o projeto de pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), é necessário seguir uma série de passos que envolvem cadastro, submissão eletrônica e organização criteriosa dos documentos. O processo ocorre inteiramente por meio da Plataforma Brasil (www.saude.gov.br/plataformabrasil), sistema nacional obrigatório desde 2013 para todas as pesquisas com seres humanos no Brasil.

Passo a passo:
a. Faça o cadastro na Plataforma Brasil. Acesse o site da Plataforma Brasil e crie seu perfil como pesquisador, informando dados pessoais, profissionais e vinculando-se à instituição onde a pesquisa será realizada. Esse cadastro é individual e indispensável para iniciar qualquer submissão.

b. Prepare os documentos exigidos. Antes da submissão, certifique-se de que seu projeto de pesquisa esteja completo, em formato digital (preferencialmente PDF), e que todos os documentos complementares estejam prontos. A nomenclatura usada na Plataforma Brasil pode diferir levemente daquela do seu modelo de projeto, portanto, adapte os nomes dos arquivos conforme necessário, sem alterar seu conteúdo.

c. Inicie a submissão eletrônica do projeto. Dentro da Plataforma Brasil, clique em “Nova Submissão”, selecione o tipo de estudo, preencha os formulários obrigatórios e anexe os documentos exigidos. A plataforma é autoexplicativa, mas exige atenção aos detalhes, pois erros podem gerar pendências que atrasam o processo.

d. Escolha o CEP responsável. Em geral, você deverá selecionar o comitê vinculado à sua instituição ou à instituição onde a pesquisa será realizada. Verifique se o comitê está ativo e disponível para análise de novos projetos.

Com todos esses passos concluídos e os documentos organizados, o pesquisador pode enviar o projeto com segurança, garantindo não apenas a conformidade ética, mas também a credibilidade científica do estudo. Esse processo fortalece a integridade da pesquisa e prepara o caminho para a sua execução com respaldo institucional.

7. Considerações finais

Finalizada a redação do projeto de pesquisa, é mandatório que ele seja encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) antes de qualquer início de coleta de dados. Esse encaminhamento não é opcional nem burocrático: é um requisito ético, científico e legal para toda pesquisa que envolva seres humanos, direta ou indiretamente. A aprovação pelo CEP confere legitimidade institucional ao estudo, resguarda os direitos dos participantes e assegura a integridade do processo de investigação.

Além da submissão inicial, o compromisso ético do pesquisador com o comitê não se encerra com a aprovação. A partir do momento em que a pesquisa é autorizada, o pesquisador assume a responsabilidade de manter o CEP informado sobre o andamento do estudo. Isso inclui a entrega obrigatória de relatórios de acompanhamento a cada seis meses, ou conforme estipulado pelo próprio comitê, até o encerramento da pesquisa. Esses relatórios devem conter atualizações sobre o cronograma, número de participantes recrutados, eventuais desvios de protocolo, dificuldades encontradas e ações corretivas adotadas.

O envio regular desses relatórios permite que o CEP acompanhe de forma contínua a execução da pesquisa, garantindo que os princípios de respeito, justiça e beneficência sejam mantidos durante todo o percurso. Ao final da pesquisa, é necessário também encaminhar um relatório final, consolidando os resultados obtidos e documentando o encerramento das atividades.

Portanto, o processo ético não se limita à submissão inicial. Ele se estende por toda a duração da pesquisa, exigindo do pesquisador uma postura ativa, transparente e comprometida com os princípios que regem a boa prática científica.

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