Uma pesquisa só se completa quando encontra sua voz no papel. Escrever o relatório final é transformar esforço em legado, dúvida em resposta, silêncio em ciência.

1. Definição
O relatório final — também conhecido como relatório de pesquisa — é o documento conclusivo que reúne, de maneira sistemática e organizada, todos os elementos essenciais do ciclo da pesquisa. Ele narra o percurso completo da investigação, desde a formulação da ideia brilhante (composta pela pergunta de pesquisa e pela hipótese) até a conclusão, que deve obrigatoriamente responder à pergunta inicial.
Além de apresentar os resultados obtidos e sua interpretação crítica, o relatório final também inclui a revisão da literatura utilizada como base teórica, o método detalhado adotado na execução da pesquisa e a discussão dos achados à luz do conhecimento científico atual.
Esse documento deve conter:
- a pergunta de pesquisa que orientou o estudo;
- a hipótese testada;
- a situação atual do conhecimento sobre o tema;
- o método utilizado, incluindo o tipo de estudo, local, amostra, procedimentos, variáveis e análise estatística;
- os resultados obtidos, com apresentação clara e objetiva;
- a discussão, onde os resultados são interpretados criticamente;
- a conclusão, que deve responder diretamente à pergunta de pesquisa;
- e os anexos obrigatórios, como os modelos de formulários utilizados e a planilha de dados individuais.
A estrutura do relatório final é a mesma que servirá de base para a redação do artigo científico, tornando-se o elo entre a execução e a divulgação da pesquisa.
A depender do nível de formação acadêmica, o relatório final recebe nomes diferentes, todos com a mesma essência de apresentar o produto de uma investigação científica:
- Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – na graduação;
- Monografia – na especialização;
- Dissertação – no mestrado;
- Tese – no doutorado.
Independentemente do nome que receba, o relatório final é, antes de tudo, um documento científico que representa o esforço do pesquisador em produzir conhecimento com base em método rigoroso. Ele deve ser redigido com clareza, objetividade e precisão, respeitando as normas científicas e os princípios éticos.
2. Importancia
A elaboração do relatório final é uma etapa fundamental no ciclo da pesquisa, pois concretiza e comunica tudo o que foi realizado ao longo do estudo. Existem três razões principais que justificam sua importância:
- A primeira razão é a necessidade de documentar a pesquisa realizada. O relatório final é o registro oficial de todo o percurso investigativo. Ele preserva os detalhes da pesquisa — do planejamento à conclusão — e permite que esse conhecimento seja acessado futuramente, tanto pelo próprio autor quanto por outros interessados. Sem esse registro, a pesquisa corre o risco de se perder no tempo, tornando-se um esforço isolado e efêmero.
- A segunda razão é a possibilidade de avaliação por outros pesquisadores. O relatório final serve como uma ferramenta de validação, permitindo que especialistas analisem a qualidade da pesquisa, considerando aspectos como sua validade científica, importância teórica ou prática e aplicabilidade dos resultados. Essa avaliação crítica externa é essencial para garantir que os achados sejam confiáveis, relevantes e possam, de fato, contribuir para o avanço do conhecimento.
- A terceira razão é a função do relatório como meio de comunicação institucional. Em diversos contextos — como na graduação, mestrado ou doutorado —, o relatório final precisa ser encaminhado formalmente para uma banca examinadora, um órgão avaliador, ou mesmo para agências de fomento. Ele demonstra o andamento e o encerramento formal da pesquisa, sendo muitas vezes pré-requisito para o prosseguimento acadêmico ou para prestação de contas em projetos financiados.
Portanto, mais do que um documento burocrático, o relatório final é um instrumento científico, avaliativo e comunicativo, que cumpre funções indispensáveis para a transparência, rastreabilidade e reprodutibilidade da pesquisa.
3. Quem deve fazer?
A responsabilidade de redigir o relatório final é, exclusivamente, do próprio pesquisador. Isso porque ninguém melhor do que ele conhece as etapas vividas, os desafios enfrentados e as decisões metodológicas tomadas ao longo do estudo. O relatório não é apenas uma descrição técnica: ele carrega a narrativa científica da pesquisa, exigindo que o autor tenha domínio completo do conteúdo e clareza na comunicação.
A redação do relatório final é, acima de tudo, um exercício de redação científica. Isso significa escrever com objetividade, precisão, coerência e rigor metodológico, utilizando uma linguagem clara e adequada às normas científicas. Redigir esse documento é também um processo de reflexão crítica, pois exige que o pesquisador interprete os próprios resultados à luz da literatura e da hipótese inicial, articulando evidências com consistência lógica.
Ainda que o pesquisador possa contar com orientação de professores, leitura crítica de colegas ou revisão técnica, a autoria intelectual e textual do relatório final é pessoal e intransferível. Delegar essa tarefa comprometeria não apenas a autenticidade do trabalho, mas também o desenvolvimento das habilidades científicas que o relatório busca justamente consolidar.
4. Quando fazer?
A redação do relatório final não começa do zero. Ela, na verdade, tem início ainda na fase de planejamento, quando o pesquisador elabora o projeto de pesquisa. Esse projeto já contém os elementos fundamentais do relatório, como a pergunta de pesquisa, a hipótese, os objetivos, a justificativa teórica, a metodologia e os procedimentos éticos e logísticos.
Por isso, ao final da execução do estudo, a maior parte do relatório já está pronta. O que precisa ser acrescentado são apenas as seções que dependem da realização prática da pesquisa: os resultados, a discussão (interpretação dos dados à luz da literatura e da hipótese) e a conclusão (resposta à pergunta de pesquisa).
Essa lógica permite que a redação do relatório final seja feita de forma eficiente, sem retrabalho, desde que o projeto inicial tenha sido bem elaborado. Assim, o momento ideal para redigir o relatório final é imediatamente após o término da coleta e análise dos dados, quando as informações estão frescas na memória do pesquisador e os documentos utilizados ainda estão acessíveis.
Portanto, redigir o relatório final não é um processo que começa “depois da pesquisa”, mas sim a etapa de conclusão de um documento que já vem sendo construído desde o início.
5. Onde fazer?
A redação do relatório final pode ser realizada em qualquer ambiente que ofereça condições adequadas de concentração, acesso aos dados coletados e às ferramentas de escrita científica. No entanto, o mais importante não é o local físico em si, mas sim a estrutura de trabalho montada para garantir uma produção científica organizada e rigorosa.
Como o relatório já começou a ser escrito na fase de elaboração do projeto de pesquisa, boa parte do conteúdo já se encontra estruturado. Esse material pode estar salvo em arquivos digitais, em plataformas como o Google Docs, Drive, Word, ou até mesmo em cadernos de planejamento físico. Por isso, é essencial escolher um local onde seja possível acessar esses documentos com facilidade.
Além disso, o ambiente deve permitir o uso de recursos online, como bases de dados científicas para complementar a discussão, repositórios de artigos, manuais de normalização (ABNT, Vancouver, etc.) e softwares de edição de texto e planilhas. Isso inclui tanto escritórios físicos (na universidade, laboratório, biblioteca) quanto ambientes virtuais bem organizados, que garantam segurança e backup dos arquivos.
O local ideal, portanto, é aquele que proporciona ao pesquisador as condições para escrever com foco, segurança e precisão, com todos os dados à mão, e acesso ao que for necessário para completar as seções pendentes: resultados, discussão e conclusão.
6. Como fazer?
Para redigir o relatório final, o primeiro passo é utilizar o projeto de pesquisa como base estrutural. Isso porque o projeto já contém a maioria dos elementos que serão mantidos no relatório. No entanto, é fundamental realizar ajustes específicos para transformar esse projeto em um documento conclusivo e completo.
O relatório final não deve conter itens desnecessários, especialmente as partes que foram incluídas apenas para a submissão ao Comitê de Éticaa em Pesquisa, como os aspectos éticos e logísticos. Esses trechos devem ser removidos, pois seu propósito era viabilizar a aprovação da pesquisa, e não compor o corpo final do trabalho.
Depois disso, é preciso renumerar os itens, ajustar os títulos das seções e, sobretudo, revisar o tempo verbal. Enquanto o projeto foi escrito em futuro do presente (“será realizado”), o relatório final deve ser redigido no passado (“foi realizado”), refletindo que a pesquisa já foi executada.
Em seguida, devem ser acrescentados os resultados, a discussão dos achados, a conclusão e a tabela de dados individuais — que são os elementos novos, surgidos a partir da execução. Essa é a alma do relatório final, pois representa a resposta à pergunta de pesquisa com base no que foi realmente observado.
Com o texto finalizado, recomenda-se imprimir e encadernar o documento, seguindo as orientações formais da instituição. Junto à versão impressa, é necessário incluir uma cópia eletrônica (arquivo PDF), com todos os arquivos em formato digital, como exigido por muitas bancas examinadoras ou programas de pós-graduação.
A redação do relatório deve ser feita de forma clara, precisa e objetiva, evitando exageros de linguagem ou excesso de termos técnicos. Cada item da estrutura deve ser tratado com cuidado formal, inclusive respeitando a orientação cosmética de iniciar cada seção em uma nova página, o que melhora a leitura visual do documento.
Estrutura sugerida do relatório final:
- Capa
- Folha de rosto
- Página do orientador
- Agradecimentos
- Informações gerais
- Resumo / Abstract
- Índice
- Listas (abreviaturas, figuras, gráficos, tabelas)
Parte textual:
- Introdução
1.1. Contexto
1.2. Hipótese
1.3. Objetivo - Métodos
- Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE ou CEUA)
2.1. Tipo de estudo
2.2. Local
2.3. Amostra
2.3.1. Critério de inclusão
2.3.2. Critérios de exclusão
2.3.3. Técnica de amostragem
2.3.4. Consentimento livre e esclarecido
2.4. Procedimentos (se aplicável)
2.5. Variáveis
2.5.1. Variável primária
2.5.2. Variáveis secundárias
2.5.3. Dados complementares
2.6. Método estatístico
2.6.1. Cálculo do tamanho da amostra
2.6.2. Análise estatística
- Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE ou CEUA)
- Resultados
3.1. Desvios da pesquisa
3.2. Características da amostra
3.3. Variáveis - Discussão
4.1. Métodos
4.2. Resultados
4.3. Implicações clínicas
4.4. Implicações para futuras pesquisas - Conclusão
- Referências
- Anexos
- Modelo de TCLE e TALE (se aplicavel)
- Documento de aprovação do CEP
- Tabela de dados individuais
- Formulário de conflitos de interesse (www.icmje.org/conflicts-of-interest)
- Apêndices (se houver)
As normas detalhadas para elaboração do relatório podem ser acessadas pelo link:
👉 http://www.metodologia.org/ecmal/livro/pdf/normas_2p.pdf
7. Considerações finais
Ao concluir a redação do relatório final, o pesquisador alcança uma das etapas mais significativas do processo científico: a formalização do encerramento da pesquisa. Nesse momento, é obrigatório que seja enviada uma cópia do relatório final ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Esse procedimento garante que a instituição responsável pelo acompanhamento ético da pesquisa seja informada oficialmente sobre sua finalização.
É importante destacar que a responsabilidade ética não termina com a aprovação inicial. Existe uma obrigação contínua de prestação de contas. Caso o intervalo entre a aprovação do projeto e a entrega do relatório final ultrapasse seis meses, o pesquisador deve encaminhar relatórios parciais periódicos, a cada seis meses, para atualizar o CEP sobre o andamento da pesquisa. Essa exigência está fundamentada nos princípios de transparência, monitoramento ético e responsabilidade científica.
Portanto, a entrega do relatório final ao CEP é mais do que um requisito burocrático: ela representa o compromisso do pesquisador com a ética, com a ciência responsável e com os participantes da pesquisa. É o ato que encerra o ciclo de execução com clareza, integridade e respeito institucional.
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