18. Preparar o Artigo Original

8 minutos

Uma pesquisa só se torna ciência quando deixa de ser segredo.

As etapas e fases do processo de fazer uma pesquisa

1. Definição

O artigo original é a síntese formal de toda a pesquisa científica realizada, representando o último passo do ciclo da pesquisa: a divulgação. Ele é construído com base no relatório final, mas adaptado para o formato exigido pelas revistas científicas. Isso significa que, embora parta da mesma estrutura lógica do relatório, o artigo é mais enxuto, direto e focado, com máximo de 20 páginas impressas em coluna única, espaço duplo, contendo os itens essenciais: introdução, métodos, resultados, discussão e conclusão.

A principal função do artigo original é tornar público o conhecimento gerado, permitindo que ele seja avaliado, replicado e utilizado por outros pesquisadores. Diferente de apresentações orais ou pôsteres em eventos científicos, o artigo original é a forma mais legítima e permanente de publicação científica, pois é indexado em bases de dados e submetido à revisão por pares.

A estrutura do artigo segue padrões internacionais, como os definidos pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (Grupo de Vancouver, https://icmje.org), assegurando uniformidade, clareza e transparência na comunicação científica.

Cada parte do artigo tem uma função específica:

  • A introdução apresenta o contexto, a hipótese e o objetivo da pesquisa.
  • Os métodos descrevem com precisão o tipo de estudo, o local, a amostra, os procedimentos, as variáveis e os métodos estatísticos utilizados.
  • Os resultados mostram os dados obtidos, sem interpretações.
  • A discussão contextualiza os achados à luz da literatura científica e indica suas implicações.
  • A conclusão resume as principais respostas à pergunta de pesquisa.

Em suma, o artigo original é mais do que um resumo: é a versão científica final da pesquisa, formalmente publicada, que fecha o ciclo do conhecimento e abre caminho para novas investigações.

2. Importancia

O artigo original é a mais importante de todas as formas de divulgar os resultados de uma pesquisa, pois é a única estratégia obrigatória no processo científico. Enquanto apresentações em eventos ou resumos expandidos servem como meios complementares de visibilidade, é o artigo original que legitima e consolida a pesquisa no meio acadêmico.

É por meio dele que o conhecimento gerado entra oficialmente para o acervo científico mundial, sendo indexado em bases de dados, avaliado por revisores independentes e acessado por pesquisadores e profissionais de diferentes países. Sem essa publicação, a pesquisa permanece incompleta, pois não contribui efetivamente para o avanço da ciência nem para a formação de novas evidências.

A publicação do artigo original também é um critério essencial de reconhecimento acadêmico, sendo exigida em processos de titulação, progressão na carreira docente e avaliações de produtividade científica. Além disso, fortalece o compromisso ético do pesquisador com a transparência, permitindo que outros repliquem, critiquem ou ampliem os achados divulgados.

Por isso, o artigo original não é apenas uma formalidade: é a última etapa obrigatória do ciclo de vida da pesquisa, sem a qual o estudo não cumpre sua missão científica.

3. Quem deve fazer?

A responsabilidade pela elaboração do artigo original é inteiramente do pesquisador principal. Ele é quem conduziu a pesquisa, conhece profundamente cada etapa do estudo, e portanto, é o único que possui autoridade e domínio sobre os dados, os métodos e os resultados obtidos.

Escrever o manuscrito não é uma tarefa que pode ser terceirizada: exige clareza conceitual, domínio técnico e capacidade de síntese. O pesquisador deve transformar meses — ou anos — de trabalho em um texto claro, conciso e cientificamente válido.

Além disso, a elaboração do artigo é um momento privilegiado de reflexão crítica, no qual o pesquisador organiza os achados, analisa sua relevância, e os contextualiza com a literatura existente. Isso exige não apenas conhecimento sobre o conteúdo, mas também habilidade de redação científica, que pode e deve ser desenvolvida com a prática.

Por fim, é também responsabilidade do pesquisador encaminhar o manuscrito para a revista científica adequada, escolhendo um periódico que seja compatível com o tema e com o tipo de estudo. Esta escolha é estratégica, pois afeta diretamente a visibilidade e o impacto da pesquisa.

4. Quando fazer?

A redação do artigo original deve ser feita somente após a conclusão da execução da pesquisa. Isso significa que todas as etapas — da coleta de dados até a interpretação dos resultados — já devem ter sido realizadas, analisadas e documentadas no relatório final.

É um erro comum e grave tentar divulgar os resultados da pesquisa em eventos científicos ou outras mídias antes de finalizar a redação completa do relatório final e, posteriormente, do manuscrito científico. Essa prática compromete a qualidade, a consistência e até mesmo a credibilidade da pesquisa.

O artigo original é a última peça do quebra-cabeça científico, e por isso precisa ser construído com base sólida. O pesquisador deve estar com todos os dados organizados, os resultados analisados e as interpretações bem fundamentadas para então iniciar a redação científica com segurança.

Antecipar a divulgação sem esse preparo é como tentar construir o telhado antes de terminar os alicerces: compromete toda a estrutura e pode gerar erros que se propagam. Por isso, é fundamental respeitar a sequência lógica: primeiro o relatório final, depois o artigo original.

5. Onde fazer?

A redação do artigo original pode ser realizada em qualquer local que ofereça o mínimo necessário: um computador com acesso à Internet e o arquivo do relatório final da pesquisa.

Mais importante do que o ambiente físico é que o pesquisador esteja em um espaço tranquilo e funcional, que permita concentração, acesso às referências bibliográficas e às ferramentas de edição de texto. Esse local pode ser o escritório, a biblioteca, o laboratório ou até mesmo a própria casa do pesquisador — desde que ofereça as condições técnicas e cognitivas ideais para a escrita científica.

Ter o relatório final em mãos (impresso ou em versão digital) é indispensável, pois ele é a base do manuscrito. O artigo original não deve ser escrito “do zero”, mas sim como uma versão condensada, estruturada e refinada do relatório.

A conexão com a Internet permite o acesso a normas editoriais, a modelos de artigos já publicados, a plataformas de submissão e a repositórios de imagens e tabelas. Isso torna o processo mais eficiente, especialmente quando o pesquisador precisa verificar diretrizes específicas da revista científica onde pretende submeter o artigo.

Portanto, o melhor lugar para escrever o artigo original é aquele onde o pesquisador pode acessar o que precisa e pensar com profundidade, transformando o conhecimento produzido em ciência publicada.

6. Como fazer?

A elaboração do artigo original exige organização, técnica e atenção aos detalhes editoriais. O primeiro passo é escrever o manuscrito em até 20 folhas, com coluna única e espaçamento duplo, respeitando o formato editorial padrão adotado pelas revistas científicas.

Antes de enviar, é necessário elaborar o ofício de encaminhamento, documento que acompanha o manuscrito e formaliza o interesse em submeter o artigo à revista. Também deve ser incluído o formulário de transferência dos direitos autorais, conforme exigência da maioria dos periódicos.

Cada revista tem regras próprias quanto ao formato, número de palavras, tipo de linguagem, estilo de citação e até ordem dos autores. Por isso, é obrigatório revisar cuidadosamente os requisitos da revista escolhida antes de submeter. Para padronizar e facilitar esse processo, recomenda-se seguir as diretrizes do Grupo de Vancouver (ICMJE – International Committee of Medical Journal Editors), que definem uma estrutura universal para a publicação de artigos biomédicos.

A redação do artigo deve ser feita com linguagem clara, concisa e formal, mantendo um tom impessoal e científico. A uniformidade no estilo é fundamental, e o texto deve ser revisado várias vezes antes da submissão final.

Estrutura completa do artigo original:

  • Ofício de encaminhamento e transferência dos direitos autorais
  • Página de título
  • Resumo / Abstract
  1. Introdução
    • Contexto
    • Hipótese
    • Objetivo
  2. Métodos
    • Comitê de ética em pesquisa
    • Tipo de estudo
    • Local
    • Amostra
      • Critérios de inclusão
      • Critérios de exclusão
      • Amostragem
      • Consentimento livre e esclarecido
    • Procedimentos (se aplicável – apenas em ensaio clínico randomizado, coorte analítica ou estudos de acurácia)
      • Grupos estudados
      • Randomização
      • Mascaramento
    • Variáveis
      • Variável primária
      • Variáveis secundárias
      • Dados complementares
    • Método estatístico
      • Cálculo do tamanho da amostra
      • Análise estatística
  3. Resultados
    • Desvios da pesquisa
    • Características da amostra
    • Variáveis
      • Variável primária
      • Variáveis secundárias
  4. Discussão
  5. Conclusão
  6. Referências
  7. Tabela de dados individuais

⚠️ Importante: se o item Procedimentos não existir (como nos estudos transversais ou de prevalência), é necessário renumerar os itens seguintes para manter a sequência lógica do texto.

Por fim, com todos os documentos prontos e revisados, o artigo deve ser encaminhado à revista científica, seguindo rigorosamente as instruções de submissão. Esse cuidado aumenta significativamente as chances de aceitação e publicação do seu trabalho.

7. Considerações finais

A apresentação da pesquisa na forma de artigo original é o ato conclusivo da etapa de divulgação e representa o fechamento completo do ciclo científico. Sem essa publicação, a pesquisa permanece incompleta, mesmo que todos os dados tenham sido coletados, analisados e discutidos.

A não publicação do artigo original não é apenas uma ausência técnica: ela deixa evidente que o ciclo da pesquisa não foi encerrado. Significa que o conhecimento gerado não foi compartilhado com a comunidade científica, não foi avaliado por pares, e portanto, não contribuiu de forma efetiva para o avanço da ciência.

O artigo original é o marco definitivo de que a pesquisa foi realizada com rigor, finalizada com responsabilidade e disponibilizada para uso público. Ele é a prova de que o pesquisador cumpriu todas as etapas e assumiu o compromisso ético de tornar seus resultados acessíveis.

Portanto, pesquisa sem artigo original é pesquisa não concluída. E para quem deseja fazer ciência de verdade, publicar é parte essencial do processo.

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https://bit.ly/18artigo